quarta-feira, 24 de março de 2010

Pilotos buscam emoção na dura realidade do inverno


Para Joe Belanger, pilotar automóveis no asfalto é simplesmente uma maneira de matar o tempo até que os lagos se congelem.

As corridas no gelo, seu esporte preferido, são como as tradicionais corridas de rua mas em versão congelada, que envolvem as derrapagens, deslizamentos, imprevisibilidade e o frio gélido que correr sobre uma superfície gelada implica.

"Por quê?", diz Belanger. "É um vício. Uma tremenda injeção de adrenalina, poder fazer 110 km/h em uma reta e começar a curva em uma pista de gelo".

Os clubes de corrida no gelo, a maioria dos quais localizados no nordeste e na porção superior do centro-oeste dos Estados Unidos, equipam seus pneus com correntes e levam os carros a lagos congelados, a cada inverno. Existe até uma série para os pilotos de elite da modalidade, com provas em locais que se estendem de Fresno, Califórnia, a Glenn Falls, Nova York.

Belanger é o presidente da Associação de Corrida no Gelo da Nova Ingkaterra, clube cujos membros se encontram no lago Northeast, em Milton Three Ponds, todos os domingos de janeiro a março, se o clima permitir.

O clube surgiu quase 40 anos atrás, quando um grupo de pilotos de rua decidiu sair com seus carros no gelo, disse John Mattress, 60, um dos fundadores, que corre usando o apelido de "Outlaw" fora da lei.

O clube tem uma regra firme: não há corridas se o gelo tiver menos de 30 centímetros de espessura. Os integrantes usam uma verruma para medir o gelo e garantir que seja sólido e firme o bastante para receber dezenas de carros cujos pilotos pagam US$ 10 por algumas horas de corrida.

Medir o gelo "requer aprendizado", diz Keith Larmie, um dos dirigentes do clube. "O bom gelo é o mais duro, e o pior gelo é o macio. Você precisa ter o feeling". Há seis categorias de corrida em disputa a cada semana: veículos de quatro cilindros e tração dianteira; quatro cilindros e tração traseira; seis cilindros, tração dianteira; carros modificados; stock cars; e uma categoria juvenil para os pilotos entre os 13 e os 16 anos. As corridas começam às 12h. Os pilotos ganham pontos e quem tiver maior pontuação na categoria ao final da temporada leva a coroa. Cada categoria disputa duas baterias com seis a oito voltas, e a cada dia de competição é disputada uma prova mais longa, de 12 voltas.

Mesmo no gelo, as coisas podem esquentar.

Belanger se alinhou para a largada de uma prova de tração dianteira com seu Acura Integra 1995, que ele comprou por US$ 200 e equipou com gaiola interna de proteção contra capotagens. O carro, marcado pelo número 35, traz um adesivo que afirma "não gosto de companhia".

Os pilotos aceleram. Em seguida, entram na pista, trocando ultrapassagens, derrapando pelo gelo e corrigindo as posições dos carros depois de giros de 180 ou 360 graus. Há esbarrões de parachoques. Belanger sai do gelo. Seu Acura precisa ser guinchado, depois de uma colisão com outro carro.

"Ele detonou minhas chances de campeonato", disse Belanger. "O carro quebrou. A suspensão dianteira direita toda cedeu".

Mas ainda havia esperança. Um pequeno carro laranja estava disponível, e Belanger o empregou na bateria final.

Troy Washburn estava se preparando para final dos carros com tração traseira, fazendo ajustes finais em seu Buick 1992, em companhia do mecânico D. J. Ellis.

"É um carro de vovó que transformamos em máquina matadora", diz Ellis.

A maioria dos carros conta com uma gaiola interna de proteção contra capotagem, porque esse tipo de desastre é o maior perigo em provas no gelo. O asfalto é uma superfície mais firme, diz Washburn, mas o gelo é mais divertido e requer pilotagem melhor.

"Os carros ficam mais lentos mas também mais difíceis de controlar", disse Washburn.

Os pneus de todos os carros recebem correntes, o que permite mais tração. Os pilotos dizem que curvas requerem sutileza no gelo, se o volante for virado demais, uma derrapagem é inevitável; se for virado de menos, o carro não faz a curva. E também é preciso esforço para impedir saídas de traseira.

Ellis, que não pilota, diz que as provas no gelo oferecem grandes atrativos para os espectadores.

"Você está lá no gelo, e os carros passam rápido, lascas de gelo voam. É como assistir a um número de mágica", diz.

Larmie sinaliza as entradas e saídas de pista. Escavadoras removem a neve e tentam alisar os inevitáveis calombos, entre as provas.

Antes da prova final, Mattress saltou para o seu carro, prendeu o cinto e acendeu um charuto.

"Piloto com uma mão só", disse.

Belanger, um segundo piloto e Randy Washburn, o genro de Mattress, também estão na disputa. Matttress derrapou e saiu da pista na primeira volta, mas conseguiu se recuperar com agilidade. Washburn ganhou vantagem, mas Belanger começou a reduzir a distância.

O final foi dramático. Os espectadores pulavam. Linda, a mulher de Mattress, assistia da cabine de sua picape, gritando pelo genro.

"Força, Randy", ela dizia.

Perto do final da prova, Os carros de Belanger e Washburn se tocaram, Belanger derrapou e Washburn ficou com a vitória.

Ele deu uma volta de comemoração, segurando a bandeira quadriculada. Enquanto os dois pilotos agradeciam suas torcidas, surgiu tensão quanto alguém do grupo de Belanger acusou Washburn de tirar o carro do rival da pista deliberadamente. Os torcedores de Washburn rebateram dizendo que o resultado havia sido justo.

Os grupos continuaram gritando e trocando ofensas até que Belanger se aproximou de Washburn e estendeu a mão.

"Meu irmão se entusiasma demais, e eu também", disse Belanger. "Foi uma prova emocionante".

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